sábado, 29 de agosto de 2009

BELCHIOR

É fácil acha-lo. Afinal, ele tem medo de avião e é apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no bolso.


BARBARA GANCIA

Você viu o Belchior por aí?

Na fantasia de quem ficou, o cantor Belchior deve estar em algum lugar encantador banhando os bigodes ao sol.


O CANTOR Belchior é o novo herói de todo mundo e seu vizinho. De um dia para o outro, abandonou o carro no estacionamento do aeroporto e deu uma banana para a galera, safou-se, sumiu sem deixar nenhum vestígio. Quando você lembra da reunião sem horário para terminar, olha para as contas que terá de pagar entre os dias 30 e 10 ou pensa que hoje vai ter de usar aquela lábia de vendedor de carro usado para fugir do sexo sem encantos com o parceiro, não dá vontade de picar a mula também?

Belchior fez o que todos gostariam de fazer e, na fantasia de quem ficou, deve estar em algum lugar encantador banhando os bigodes ao sol e cantando lindamente para as nativas com aquele vozeirão dele. Ficamos sabendo que Antonio Carlos Gomes Belchior abandonou a vida que levava por conta de uma reportagem (muito boa, diga-se) publicada no dia 11 de agosto na "Palma Louca", uma revista literária da internet.

Segundo a revista, os amigos, parentes, fãs, ex-sócio, gravadora, ninguém, nem mesmo o Google, saberiam o paradeiro do cantor que integra a lista afetiva dos maiores compositores do Brasil, autor do maior sucesso na voz de Elis Regina, "Como Nossos Pais", e de hits dos anos 70, como "Apenas um Rapaz Latino-Americano", "Velha Roupa Colorida" e "A Palo Seco".

O sumiço virou assunto entre internautas, foi parar no Twitter e de lá, sem escalas e sem medo de avião, aterrissou no "Fantástico" do último domingo. Para a mesa do bar e o balcão da padaria, foi um pulo. O autoexilado Belchior, que segundo o melhor site humorístico do país, Kibeloco, "já estava sumido desde 1976", virou o prato do dia.

No Recife, o jornal popular "Aqui PE" lançou campanha oferecendo um engradado de cerveja e encheu sua primeira página com a manchete: "A gente paga uma cerveja pra quem achar o Belchior".

Em São Paulo, a imprensa passou a infernizar o filho do cantor, Mikael, que trabalha em um banco, e a ex-mulher, Angela. Amedrontada com o assédio, a ex de Belchior se escondeu em casa e recusa-se a falar. Nem mesmo a filha do cantor, Camila, que mora na Inglaterra, foi completamente poupada do "hype". Na terça-feira, o "The Guardian" publicou uma reportagem perguntando "Onde está Belchior?" e oferecendo pistas de seu paradeiro. Com alguma ironia, o correspondente do jornal no Rio deduz que o cantor tenha se retirado para traduzir a "Divina Comédia" ou -por que não?- fugido com uma mulher para uma cidade não identificada do Uruguai.

Aos poucos, porém, a verdade começa a dar as caras. Longe de ser uma estratégia de marketing para reerguer a carreira ou o exílio voluntário de um senhor latino-americano com dinheiro no bolso, tudo indica que o desaparecimento de Belchior está ligado a uma disputa familiar e a problemas financeiros. A ideia de jogar tudo para o alto é poética. E, de fato, a brincadeira de procurar o Wally bigodudo tem sido muito divertida para nós, o público. Mas, pensando bem e por via das dúvidas, em vez de Belchior, acho que eu preferiria estar no lugar do Hosmany Ramos.

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