sábado, 25 de abril de 2009

O Amor acaba?


Quando me pediram a crônica, pensei logo numa que escrevi há uns anos e que repercutiu, O AMOR NÃO ACABA, uma resposta otimista e apaixonada [não muito convicta, confesso] à famosa crônica O AMOR ACABA, de Paulo Mendes Campos, que foi citada enquanto eu levava um surpreendente, desesperador, aviltante, torpe e indigno pé-na-bunda. O paradoxo dos paradoxos aconteceria se ELA aparecesse e comprasse o quadro!!!
Diz o original de Mendes Campos: "O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos..."
Cá está minha versão resumida, para caber numa lauda:


O amor não acaba
O amor acaba? O cara disse. Numa esquina, num domingo, depois do teatro e do silêncio, na insônia, nas sorveterias, como se lhe faltasse energia. Ele não volta? Não deixa rastro ou renasce? Na esquina em que se beijaram uma vez, lá está, na sombra apagada pela luz, na poeira suspensa, na revolta da memória inconformada. Na solidão, lá vem ele, volta, com lamento, um quase desespero, e penso nos planos perdidos, que vida sem sentido... Na insônia, o amor cai como uma tonelada de lápide, e se eu tivesse feito diferente, e se eu tivesse sido paciente, e se eu tivesse insistido, suportado, indicado, transformado, reagido, escutado, abraçado? Na sorveteria, ele volta, o amor, em lembranças. Porque aquele sabor era o preferido dela, aquela cobertura era a preferida dela, aquela sorveteria era a preferida dela, aquela esquina, aquele bairro, aquele clima, aquela lua, aquele mês, aquela temperatura, aquela raça de cachorro, aquele programa de fim de tarde e aquele horário sem planos... No elevador, quantas saudades daqueles segundos em silêncio, presos na caixa blindada, vigiados por câmeras camufladas, loucos para se agarrarem, rirem, apertarem todos os botões, tirarem a roupa, escreverem ao lado do Atlasado: “Eu te amo”. Saudades é amor. Não se tem saudades do que não se amou. O amor não acaba, porque tenho saudades, me lembro dela, me preocupo com ela, torço por ela, e se sonho com ela, meu dia está feito. O amor não pode acabar, porque sem ela ou sem a esperança de revê-la, até a chance de tê-la de volta, não vejo a paz. Ela é uma trégua na minha guerra pessoal contra a minha paixão por ela. Amá-la me faz bem. Mesmo que ela não me ame, amo amá-la. Continuei amando desde o dia em que terminou. Passei meses amando como se não tivesse acabado. Ficaria anos amando mesmo se não tivesse voltado. O amor não acaba, muda. O amor não será, é. O amor está. Foi. Nas tantas músicas que ouvimos, que dançamos colados, trilhas das noites frias em que você sentava em mim nua, enquanto os meus braços imobilizavam os seus. Amor. O não-amor é o vazio. O antiamor também é amor. Eu te amava quando você respirava no meu ouvido. Lembra do meu dedo dentro de você? Amo-te, amo-te, amo-te. Instante secreto, sua boca incha, seus olhos apertam, suas unhas me arranham e você diz: Eu te amo! O amor acabou quando você se foi? Você sentiu saudades das minhas paredes, das cores das minhas camisas, da umidade da minha boca, do cheirinho do meu travesseiro, da minha torrada com mel, das noites pelados assistindo à tevê, dos vinhos entornados no lençol, do café da manhã com jornal, você sentiu falta de atravessar a avenida comigo de mãos dadas, de correr da chuva, de eu te indicar um livro, do cinema gelado em que vimos o filme sem fim, torcendo para acabar logo e ficarmos a sós, você sentiu falta da minha risada, inconveniência, de eu ser seu amante, noivo, amigo e marido, dos meus olhos te espiando, dos meus dentes mordendo e mastigando, ficou tanto tempo longe e pensou em nós especialmente bêbada ou louca, queria me ligar, me escrever, meu cheiro aparecia de repente, meu vulto estava sempre ali, acaba? Diz que acaba. Como acaba? Não acaba. Diz, não acaba. Repete. Falei? Não acaba. Pode virar amor não-correspondido. Pode ser amor com ódio, paixão com amor. Tem o amor e o nada. Ah, mais uma coisa. Antes que eu me esqueça. O amor não acaba. Vira. Se acabar, não era amor.
Será?

sábado, 18 de abril de 2009

Corrado Govoni (1884-1965)

Portinari, "Flautista", óleo de 1934

Eis o que resta
de toda a magia da quermesse:
esta cornetinha
de lata azul e verde
que uma menina sopra,
caminhando, descalça, pelo campo.
Mas naquela nota esforçada,
estão dentro os palhaços brancos e vermelhos,
a banda de ouro rumoroso,
o carrossel com seus cavalos, o realejo, as muitas luzes.
Assim no gotejar da calha
está todo o espanto da tempestade,
a beleza dos relâmpagos e do arco-íris,
e no humilde pavio de um pirilampo
que numa folha de arbusto se incinera
está toda a maravilha da primavera.

O rosto do estuprador - Marcelo Coelho








Na foto, as sobrancelhas hirsutas, convergindo para o nariz, são a tradução caricata do Mal
COMO QUALQUER criminoso, Josef Fritzl fez o possível para esconder seu rosto dos repórteres.A caminho de ser condenado à prisão perpétua por estupro, por incesto, por homicídio e por ter mantido a própria filha em cativeiro durante 24 anos, o monstro se escondia atrás de uma pasta de plástico azul; pela foto, só era possível ver sua mão, mão de velho, cheia de manchas.Mesmo assim seu rosto acabou sendo fotografado. Vejo-o numa foto de perfil, olhos azuis, bigode antigo, expressão indecifrável: certa raiva, talvez, e certo desafio, no olhar.É instrutivo digitar no campo de busca do Google Images o nome do criminoso. Aparece, em primeiro lugar, a foto tirada na delegacia. O vértice das sobrancelhas hirsutas, convergindo para o nariz, é sem dúvida a tradução caricata do Mal. Logo em seguida, contudo, vemos registros de Fritzl nas suas férias, sorrindo, descontraído.O que se esconde atrás de um rosto? Por que ninguém, na cidadezinha onde ele morava, desconfiou de seu segredo?Em outro contexto, aqueles mesmos olhos azuis, aquelas sobrancelhas, aquele ar de desafio, poderiam corresponder também aos de um grande pianista, a um prêmio Nobel da medicina...Escrevo isto e logo penso que não. A Maldade está estampada no rosto do criminoso. Mas sei que estou sugestionado pelos fatos.Nada é mais variável do que a opinião humana. E, se isto acontece, é porque todo homem é capaz de todas as opiniões.Uma senhora de formação católica, não especialmente cândida com relação à perversidade humana, surpreendeu-me uma vez dizendo o seguinte: "Osama bin Laden é um assassino, claro. Mas é estranho. O olhar dele é bom". Um certo calor satisfeito e seguro, sem dúvida, pode ser visto nos olhos de qualquer terrorista. Mas ver bondade em Bin Laden? Será possível?Tudo é possível, quando vemos num criminoso alguma coisa de nós mesmos. Aquela senhora que via bondade em Bin Laden reconhecia indiretamente, talvez, seu desejo de explodir o World Trade Center. Coisa que pode ter passado pela cabeça, aliás, das próprias vítimas daquele atentado.Eis que aparece outro monstro, Josef Fritzl. Seus crimes são inimagináveis. Posso até entender que um psicopata tenha prazer em estuprar criancinhas: cede a um impulso, aquieta-se, e depois o impulso retorna, serial. Mas persistir, dia após dia, no mesmo crime, na mesma aberração, durante 24 anos?Acho que só podemos entender um caso desses, na verdade, se mergulharmos mais dentro de nós mesmos.Todo pai de família, hoje em dia, preocupa-se com seus filhos quando saem "para a rua". Na rua, tudo pode acontecer. A menina adolescente pode ser assaltada, sequestrada, estuprada... O risco existe.Mas a fantasia paterna é outra coisa: transfere para o assaltante, para o estuprador, um papel que existe na vida real. O primeiro namorado, o outro homem que está além do Pai, irá fatalmente tirar a virgindade de uma menina inocente e protegida. Até que ponto o medo do pai diante do estuprador não traduz, apenas, o medo do pai diante do primeiro namorado?Acho que Josef Fritzl encenou esse medo até suas últimas consequências. Quis preservar a filha de todo contato com o mundo exterior. Melhor que seja eu a estuprá-la do que um rapaz qualquer.No incesto, a rigor, concentra-se toda a atual insistência em torno dos "valores familiares". Insistir na importância da "família" pode ser correto, mas pode também ser a máscara de uma resistência à exogamia, à miscigenação, ao sexo em geral.Do mesmo modo, o horror à pedofilia -verdadeira obsessão nos dias que correm- pode bem ser exemplo de hipocrisia e demonização. Uma coisa, claro, é violentar bebês de dois anos. Outra coisa, acho, é o envolvimento sexual entre um padre e um menor de rua bonito, com 16 anos de idade. Neste último caso, quem manipula quem? Quem é a vítima, quem o criminoso?O pedófilo está em todos nós. A partir do momento em que se considera a atração sexual independente de uma relação constante, adulta, sentimental, romântica e recíproca, pouco importa a idade da pessoa desejada. Vale a beleza corporal, não o que alguém nos traz como pessoa. É isso -será monstruoso isso?- que não queremos ver, quando Josef Fritzl esconde seu rosto.

Quem lê tanta notícia?

Você sabia?

São realizados 31 bilhões de consultas no Google por mês. Em 2006, o número era 2,7 bilhões. Este e muitos outros dados espantosos podem ser acessados neste video do youtube. As mudanças no acesso à inform ação têm sido tão rápidas que mal estamos informados disso.




70 capetas juntos não faz o que a pinga faz

ESSE É O CARA

Sorrisos. Alegria. Sucesso.
O presidente Lula abafa em Londres.
Saiu na foto ao lado da rainha da Inglaterra.
Dona Viviana era de uma tradicional família paulista.
--Ah, se minha mãe visse isso...
Era grande a sua indignação.
--Um ignorante desses. Falando com a rainha.
Ela começou a gritar.
--Falando o quê? Só se for para pedir mais uma dose de uísque.
O marido de dona Viviana ouvia sem prestar muita atenção.
De repente, levantou-se da poltrona.
--Taí. Acho que é uma boa ideia.
Serviu-se de generosa dose da bebida importada.
Algum tempo depois, o clima era outro na mansão dos Sandoval da Motta.
--I love you, baby... Viviáán... you are my girl.
Dona Viviana olhou para o marido com certa tristeza.
--Esse é o cara. Bem que a minha mãe dizia para não casar com ele.
O casamento é como a política. Muita gente se contenta com o que tem.

A realidade é dura


CAMINHO DOS SONHOS

A solidão é mais intensa nas grandes cidades.
Dona Regina olhava a paisagem do seu apartamento.
--Prédios. Prédios. Uma borracharia.
Ela desejava países de sonho. Palácios exóticos.
--Ir para a Índia, quem sabe...
A TV mostrava imagens daquele interessante país.
--Nossa. Que rapaz bonito, esse.
Era o galã de uma novela de sucesso.
Dona Regina foi sentindo sono. O marido não chegava.
--Um ritual indiano... os deuses do Amor...
Ela fechou os olhos. E se viu transportada para uma outra realidade.
Homens de turbante. Edificações milenares. Florestas tropicais.
Um marajá charmoso apareceu montado num elefante.
A tromba do elefante enlaçou suavemente a cintura de Regina.
--Vem, meu amor... vem para o meu palácio...
Regina abriu os olhos. Não era tromba de elefante. Era o marido.
Cento e dez quilos. Já meio bêbado. Querendo romantismo com comodidade.
A miséria do lar, por vezes, é comparável à dos países mais desiguais.

Menos Obama, menos!


Mr. Obama andou falando bobagem esses dias.

Disse que o Lula era "o cara!".

Lula é um tolo ensimesmado que poderia sim ter entrado pra história como uma grande liderança mundial se, ao longo do caminho, não tivesse feito tantas concessões.

A gente aqui sabe bem quem era e quem é o seu Lula da Silva hoje.

Conhecemos bem seus discursos de ontem e suas práticas de hoje.

Os maranhenses que o digam.

Francamente seu Obama, vá cuidar do seu terreiro, que por sinal, tem pepinos bem avantajados.
Por falar em Obama...



MEDIDAS RADICAIS

Crise econômica. Providências inéditas são tomadas.
Nos Estados Unidos, o presidente Obama lança novos pacotes.
Wilson assistia o noticiário pela TV.
--Um trilhão pra cá, um trilhão pra lá...
Ele não conseguia entender.
--De onde vem tanto dinheiro?
O saldo dele estava no vermelho. Wilson começou a fazer contas. Veio o sono.
--Bom... amanhã eu cuido disso.
Uma voz ao longe.
--Wilson... Wilson... sou eu... o Obama...
O líder americano trazia um pacote na mão.
--Dollars... béin verdínios...
Wilson ia pôr a mão em toda a grana quando despertou.
Era a mulher dele. A Damiana. Junto com o filho adolescente.
--Olha aqui o que ele aprontou agora.
Um pacote de maconha. Verdinha. Encontrado na gaveta do rapaz.
Wilson descontou com sopapos no filho a sua frustração global.
A economia é como a vida familiar. Medidas drásticas nem sempre são as mais inteligentes.

E o que é que eu tenho a ver com isso?


princesa altiva

. Ontem à noite de mestre-de-cerimônias numa entrega de certificados e desfile organizado pelo Governo do Tocantins, em Sitio Novo
. Retorno ás 23 hs

. Passadinha no careca que ninguém é de ferro (rsrsrsrs)

. Dormi até as 11

. Lavar o carro / Abastecer

. Almoço

. Filminho do Panda no vídeo

. Namoro / Cochilo (não fumo)

. Passear com a gata e a cachorra (Princesa) na beira-rio

. Jantar

. Radio até meia-noite

. Dia bom

Escuta telefônica


CONVERSA CIFRADA

A corrupção domina a política brasileira.
Gilberto era agente da Polícia Federal.
Especializado em escutas telefônicas. Grampos. Tocaias.
--Um momento. Esta conversa é das boas.
Um importante político falava com a secretária de uma construtora.
--Vai ser por fora?
--Não. Melhor por dentro.
--Legal. Vou tomar precauções.
--É. Não queremos surpresinhas, né?
--No lugar de sempre?
--Onde você preferir.
--Pode deixar que eu compareço.
--Isso. Você sempre foi um cara de firmeza.
A polícia seguiu o carro da secretária.
Até chegar no Motel Barrage’s.
Onde a conversa de por fora e por dentro mostrou seu real significado.
Todos são inocentes até prova em contrário. Mesmo quando rola um relacionamento irregular.