sexta-feira, 16 de abril de 2010

Mãe

. Me espera. Tô indo para longe, para uma terra cuja língua você jamais entendeu, e não vai ser pouco o tempo que vou ficar lá. Mas me espera.

. Da outra vez que fui para lá você colocou uma das delícias que senhora fazia na minha mala sem que eu soubesse. Você me esperou daquela vez. Me espera agora de novo.

. Me ocorre sei lá por que a melodia chorosa de uma canção chamada Never Going Home Anymore, da trilha de Butch Cassidy. Por que essa música se instalou no meu ouvido?

. Eu escrevi tanto sobre o papai, e tão pouco sobre você. Me sinto culpado e injusto, mas sei que você vai me compreender e perdoar. Você também sempre falou muito mais do papai do que de você. Sua humildade é majestosa.

. Me espera. Quero reencontrar seus olhos. Nos momentos de apuros eles sempre nos confortaram, a meus irmãos e a mim.

. Me explica. Por que o tempo destrói tão rápido o mundo em que somos felizes?

. Você foi a rainha do nosso mundo. A rainha mais generosa que jamais existiu. Todos os seus súditos, para você, eram bonitos e inteligentes. Todos também tinham bom caráter. Ninguém era desleal, ninguém traía, ninguém fazia nada feio no reino em que você, com o laquê que dava a seus cabelos ares de coroa, era a senhora suprema.
Porque a seus olhos todos eram iguais a você.

. Uma das razões pelas quais eu detestaria viver outra vida além dessa é que não suporto a idéia de ter outra mãe que não você. Como um irmão escreveu de outro no livro do Martin Amis, você preencheu todos os meus céus, mãe.

. Não vou mentir. Vou demorar. Mas me espera.

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