A ilusão, claro!
Vai, Hermann...
A ilusão faz com que idiotas se passem por gênios, feios fiquem bonitos, magros fiquem gordos e vice-versa. A ilusão arranca lágrimas de crocodilo, vende areia no deserto, passa margarina no pão que o diabo amassou. A ilusão cola etiquetas ‘diet’ e ‘light’ em produtos calóricos, bota unhas postiças em dedos comidos, espreia odor de jasmin sobre o cigarro fumado ilicitamente no banheiro. A ilusão encobre. A ilusão mascara.
Como muita coisa na vida, a ilusão pode ser remédio ou veneno, tempero ou comida, dependendo da dose.
Iludir é parecido com mentir, mas tem outras nuances. Mentir é mandar a foto de outra pessoa dizendo que é sua. Iludir é mandar uma foto sua, mas tirada há dez anos e há dez quilos.
Sendo o produto mais vendido do mundo, fica claro que o mercado da ilusão é agitado. Todos nós vamos a esta feira de trocas, ora vendendo, ora comprando ilusões. E, claro, nós mesmos nos iludimos o tempo todo.
Auto-ilusão é quando você nota, sente, sabe e finge que nem percebeu. Fazemos isso na tentativa de evitar o sofrimento, sem notar que estamos apenas adiando esse sofrer. Se seu bebê está doente, ele está doente. E quanto antes você tratá-lo, mais cedo ele irá se curar. Qualquer tentativa de negar o fato, de iludir-se, só vai tornar a coisa pior.
A ilusão está em alta no mundo moderno. Temos mecanismos cada vez mais sofisticados para cobrir, alterar, disfarçar, implantar ou retirar elementos de realidade. Além das técnicas do plano físico temos também o marketing, a propaganda, para criar ilusões mais profundas. Não é preciso nem chegar no plano subliminar. Tem muita gente que se vende como boazinha e poderia ser gerente do inferno. Artistas que ganham rios de dinheiro posando como intelectuais pagando para que outros serviçais encubram o que eles não sabem fazer. Ttem muito cantor que não canta, apresentador que não apresenta ,pintor que não pinta, humorista que não tem graça, jornalista que não apura, autor que não escreve. O dinheiro, aliás, é o capataz da ilusão. O dinheiro compra silêncios, aluga mãos e adquire qualidades para todos os que se valem da enganação como palco para falar para multidões lá do alto.
No século XXI, a Era Denorex, parecer é infinitamente mais importante do que ser. Ser, ou não ser, não é mais a questão. A questão que já foi profunda hoje se contenta com a superficialidade das aparências, do faz-de-conta. Se parece bonita, vale. Se parece inteligente, vale. Se parece fino, vale. Em nome desse vale tudo, até gente boa que poderia ser alguma coisa pelo caminho mais longo, acaba pegando o atalho veloz da ilusão. São lobos em finos casacos de pele de cordeiro, vestidos de vovó. A novidade é que agora Chapeuzinho Vermelho foi clonado. E, o ‘medo dos famosos’, o ‘medo de contrariar os poderosos’, faz com que ninguém tenha coragem de questionar por que vovozinha tem um nariz tão grande ou uma boca tão botocada, por mais estranho que pareça.
Claro, há um quê exagerado nisso que escrevo. Um toque dramático. Não se iluda com minhas palavras. Ou iluda-se, a escolha é sua Fato é que a ilusão sempre teve seu papel no mundo das aparências. Não vamos execrar a cosmética e todos os tratamentos estéticos, tão úteis e adaptados ao cérebro humano. Para ele, o cérebro humano em geral (e o masculino em específico), a figura feminina, seja ela uma silhueta, uma foto na revista, a imagem no filme, é gatilho para disparar o aparelho reprodutor. E, você sabe, a reprodução é a função número UM da espécie humana. Eu diria que a reprodução está para o homem como a conversa está para o celular. Por mais que ele tenha outras funções, no fundo ele foi feito pensando naquilo.
A imagem que ilustra este post mostra um ratinho usando um buraco de um queijo como janelinha de avião. É isso que vemos. Mas assim, à primeira vista, não sabemos. Se o queijo é plástico. Se o buraco é negro. Se o rato é real, como aquele que roeu as roupas do rei de Roma. Ou se o rato foi photoshopado no buraco. Ou se o queijo é só uma textura. Talvez seja tudo irreal, ilusório, uma provocação.
Vai saber. A gente não sabe.
Por isso é tão importante saber que, no fundo, a gente não sabe de nada. Não tem ideia. Do quanto compramos de ilusão.
De ilusão também se vive, diz o clichê. Mas de muita ilusão, também se morre. Também se mata. Também se sobrevive.
E pra sobreviver, no mundo real, no virtual, no mundo mídia, no mundo grana, no mundo-mundo-vasto-mundo, muda-se até de cor na mata.
Que o diga o camaleão.
E, olha, se eu me chamasso Raimundo, também não seria uma solução.
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