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terça-feira, 29 de setembro de 2009
O amor é uma dor de cabeça
Por Moacir Sciliar
Quando, de carro, ele se aproximava do prédio em que Carmen morava, a cabeça começava a doer
O estresse psicológico e o esforço físico de manter uma relação extraconjugal podem dar origem à "cefaleia dos amantes", segundo o neurologista italiano Lorenzo Pinessi. "Esse tipo de cefaleia afeta sobretudo os homens, com uma intensidade proporcional à excitação", explicou o médico, que é presidente da Sociedade Italiana para o Estudo da Cefaleia. "Neles, o estresse psicológico devido à relação extraconjugal desencadeia fortes cefaleias, que podem durar até três horas", declarou o pesquisador italiano.
PAULO JÁ tinha 15 anos de casado e se considerava feliz no matrimônio quando Carmen veio trabalhar na empresa. Era uma morena de olhos verdes, linda, sensual -tão logo a viu, Paulo sentiu que encontrara a grande paixão de sua vida. Dois dias depois, convidou-a para almoçar, e naquela mesma noite foi ao apartamento em que a moça morava sozinha; ali tiveram uma relação extraordinariamente fogosa, algo como Paulo nunca tinha experimentado antes.
Tornaram-se amantes. E isso foi também o início de uma série de tormentos para Paulo. Homem honesto, decente, nunca tinha traído a mulher, nunca tinha mentido para ela; agora, se via obrigado a inventar histórias: "Desculpe, querida, mas essa noite teremos mais uma daquelas chatas reuniões de trabalho", coisas assim. Se a mulher acreditava ou não, ele não sabia, mas o remorso era grande.
Pior, contudo, era a dor de cabeça. Homem sadio, Paulo raramente tinha qualquer problema físico. Agora, contudo, passara a sofrer de cefaleia, uma dor de cabeça fortíssima, tão forte que se viu obrigado a procurar um médico. O doutor pediu exames, que nada revelaram de anormal e apontaram para uma conclusão óbvia: aquilo era uma coisa emocional, resultado de estresse. Um estresse, disse o médico, cuja causa Paulo deveria descobrir e removê-la.
Ele sabia qual a causa do estresse: era a ligação extraconjugal que estava mantendo. Quando, de carro, se aproximava do prédio em que Carmen morava, a cabeça começava a doer. Sentia-se mal -e sentia-se mal por causa daquela paixão escondida, clandestina.
Precisava fazer alguma coisa. E sabia o que tinha de fazer: tinha de parar com a mentira. De modo que confessou à mulher o que estava acontecendo e pediu o divórcio.
Ela chorou muito, mas, mulher admirável, reconheceu que ele tinha o direito de rever sua vida. A filha única, já adolescente, concordou e disse que continuaria amando os pais.
Paulo foi morar com Carmen. A dor de cabeça cessou. Mas, coisa estranha, a paixão também diminuiu. Agora, o sexo era uma coisa rotineira, mecânica, insípida. Pior, ele descobria que a única coisa que o atraía em Carmen era isso, o sexo. Numa tarde de sábado, no supermercado, encontrou a ex-mulher. Cumprimentaram-se afavelmente, ele convidou-a para um café.
Enquanto conversavam ele a olhava, nostálgico -e apaixonado. Sim, apaixonado. Seria ela o grande amor de sua vida? De repente, voltou-lhe a dor de cabeça. Mas, dessa vez, ele a recebeu com júbilo, com emoção. Não era uma simples cefaleia. Era a paixão. Que ele estava redescobrindo.
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