Sábado tem “show” do Moído na cidade
Os malas também vão participar da diversão
Imperatriz, sexta-feira, 4 da tarde, consultório odontológico, região central da cidade, próximo ao Socorrão.
Na recepção a funcionária do estabelecimento, clientes à espera do atendimento. Na maioria mulheres. Um homem apenas entre elas. Policial militar.
Entra no recinto um homem jovem, desses com cara de cidadão comum e dirige-se a recepcionista. Quer marcar uma consulta. O dente dele não está bom. Dói pacarai!
Alguns clientes à sua frente, esperam pela vez. Folheiam revistas, conversam entre si, falam ao telefone, observam o ambiente, esperam.
Alguns minutos depois o rapaz que entrara por último pergunta:
- Falta quantos pra mim (sic) ser atendido, moça?
- Mais uns três, senhor. Responde ela.
- Quanto tempo, mais ou menos? Insiste o homem.
- Uma meia hora.
Ele olha em volta, ´filma` o ambiente, analisa, toma um fôlego faz um gesto como que chamando alguém, através de uma janelinha que dava pro ambiente externo.
Nesse momento entra no consultório outro rapaz, puxa a arma e juntos anunciam o assalto.
- Perdeu, perdeu! Todo mundo quéto! Passa o celulá! Cadê o dinhêro! Me dá esse colá aqui! Rumbora logo! E não me olha não, senão eu atiro! Dou um teco! Vamos! Vamos!
Um escorava com o berro, o outro dava o baculejo na clientela. Com especial atenção ao único homem entre os clientes. Os bandidos não sabiam que o cara era um policial militar, mas sabiam que tinham de ficar ligados nele.
No cós da calça do policial estava uma pistola calibre 9mm.
Com mais de 15 anos de polícia ele já tinha passado por experiências parecidas fazendo revistas em presos dentro da CCPJ e até já tinha escorado bandido com arma, o camarada com um revólver na cara dele e ele com um fuzil na cara do bandido, além é claro, de toda a experiência da lida diária de um policial.
Ele sabia que naquele momento precisava se valer dessa experiência pra não morrer ali naquele ambiente fechado. Sem boas chances para reação, sem vítimas do lado dos que estavam sendo assaltados.
Pistola para ser usada geralmente precisa ser armada, engatilhada primeiro, pensou ele. Com dois caras armados e tendo apenas ele de homem não daria tempo. Podia ferir alguma das vítimas. Portanto, reagir não estava em seus planos.
Foi quando um dos ladrões determinou que ele levantasse. Queria revistá-lo.
O policial pensou com ele:
- Agora eu to morto! Ele vai encontrar arma e vai me atirar!
Usando sua experiência em revistas, levantou-se e pôs as mãos uma por sobre a outra, numa posição em que parte do braço ficaria em cima do cabo da arma. Estratégia pra disfarçar o volume do cabo na camiseta.
O bandido lhe revista vindo de baixo até chegar à região genital, por entre as pernas, e quando o mesmo começa a tocar próximo a arma, ele se vira de costas e abre as pernas. Outra estratégia para se livrar do "flagrante" e mostrar que estava colaborando com a ação. O ladrão vê a carteira do mesmo no bolso de trás e cresce o olho edesiste de prosseguir a revista. Abre a carteira.
O policial, pensa:
- É, agora não tem mais jeito. Ele vai ver minha carteira de polícia assim que abrir e vai atirar. Meu Deus, me ajude!
Na carteira, 450 reais em dinheiro e um cheque de mil conto.
Quando o malaca viu as notas de real pegou-as rapidamente, jogando a no chão. A carteira cai aberta mostrando justamente a carteira de identificação com a inscrição em letra graúda “POLÍCIA”.
- Eita, porra! Pensou o policial.
Nesse instante o bandido já dava o baculejo em outras pessoas. O policial pisa em cima da carteira e puxa-a devagarzinho em sua direção. Sem chamar a atenção. Ufa!
Por conta dos últimos acontecimentos na cidade, em que malas têm tombado em pleno exercício da “profissão” com balaços nas costas disparados por seguranças armados dos estabelecimentos roubados, eles se retiraram do local de frente paras vítimas, de arma em punho, gritando palavras ameaçadoras e trancaram a porta do consultório, sairam do raio de visão das vítimas e tomaram rumo ignorado.
Os clientes ao perceberem que já estão a salvos daquela situação começam a se movimentar, atônitos com a ousadia dos caras e com o risco de morte iminente que acabaram de passar. Confortam-se entre eles, enquanto uma senhora precisa de atendimento médico, pois está muito nervosa. O policial faz uma ligação de um dos celulares que sobrou da parada e avisa a central da PM, dando as características dos mesmos. A senhora foi encaminhada ao hospital e o dentista que atendia noutra sala, só veio tomar mconsciência do ocorrido minutos depois.
Assim encerra-se se mais uma parada das muitas que acontecem diariamente em Imperatriz e Brasil a fora, ficando a sensação de que poderia ter sido pior, caso o policial não tivesse usado sua experiência para administrar a situação e tivesse reagido como muitos o fazem.
Lembrei de um caso em que uns assaltantes renderam um ônibus lotado de policiais que se dirigiam para um evento da polícia na capital e um dos passageiros reagiu ao assalto, resultado: uma criança morta e um policial ficando tetraplégico.
A ação toda no consultório durou por volta de dez minutos e, tanto o policial quanto sua família acredita num livramento de Deus. Mas há que se dizer que ele ter tido a "frieza" de não reagir colaborou bastante com o desfecho.
O mais curioso é que no dia seguinte, à noite, o mesmo policial vai a uma agência bancária na Av. Bernardo Sayão, à paisana, e adivinhem quem ele encontra saindo do banco após um saque no caixa eletrônico com a maior cara de cidadão comum? Pois é, ele mesmo, o vagabundo! Mundinho pequeno esse, não?
O mala subiu na moto, olhou para os lados e ´capou o gato` rumo ao parque de exposições. Foi curtir o show do Moído. Ao vivo. Se divertir um pouco que ninguém é de ferro. Pra semana tem mais parada pra fazer. Se a PM prender, o doutor juiz solta. Tá na lei.
Mas, deixa estar, os dois estão na lista do monitoramento/serviço velado da PM e vão cair em definitivo uma hora dessas. Ah, se vão!
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