sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Ctrl C / Ctrl B



Nós, bisbilhoteiros
por Rosana Hermann

Minha intuição me cutuca no ombro e diz que o sucesso do Big Brother Brasil, em sua surpreendente NONA edição e tendendo a chegar até a vigésima, tem ligação direta com o sucesso inacreditável do Orkut no Brasil.

O Orkut, como ouvi novamente agora, na CBN, só faz sucesso no Brasil, na Índia e no Paraguay. Não tenho competência para fazer uma análise profunda sobre o fato, mas vamos à rasa mesmo.

O que é o Big Brother? É uma novela da vida real, com pessoas mais próximas dos telespectadores do que do elenco da televisão, confinadas numa casa. Os participantes do jogo disputam um prêmio em dinheiro, fazem provas, competem e tudo isso é mostrado o tempo todo pela televisão para todo mundo. A palavra-chave do programa, no ponto de vista do telespectador é "espiar".O arquétipo é o da criança que espia pelo buraco da fechadura, anonimamente.

E o Orkut? O Orkut é uma rede de relacionamento com mil possibilidades de encontros, troca de informações, etc. Mas a principal atividade dos frequentadores do Orkut, a que dá essa média altíssima de visitas é o verbo "fuçar". As pessoas ficam fuçando o perfil dos outros, fuçando o próprio passado, procurando pessoas que já conheceu, encontrou no jornal, nomes que estão na TV, nos noticiários. As pessoas procuram pessoas para fuçar a vida de outras pessoas. De preferência, de forma anônima.

Ou seja, a atividade que mais agrada a todos nós, brasileiros que consumimos entretenimento pessoal pode ser traduzida pelo verbo "bisbilhotar".

Veja que bela definição, precisa, o Houaiss dá para Bisbilhotar:
"intrometer-se com curiosidade no que não lhe diz respeito, discretamente ou não, para descobrir algo"

Se você continuar a pesquisa, passando por bisbilhoteiro, mexeriqueiro, alcoviteiro, vai chegar à mesma origem: a alcova. A alcova, vem do árabe, al-qubba, alcoba, um pequeno quarto. Tudo vem dos mexericos sobre a vida alheia, a partir da curiosidade humana, sussurrada a boca pequena, sem fonte, sempre anonimamente. O alcoviteiro é o intermediário entre amantes, o corretor de prostitutas. Não é nem preciso dizer que "fuçar", por sua vez, vem de focinho. O resto a gente já imagina. Curioso também o espiar, cuja raiz indo-européia spec também está ligada ao especular.

O que a gente faz, então? O que gostamos tanto de fazer? Saciar nossa curiosidade sobre a vida alheia. No conforto do anonimato, sem deixar rastros. Nosso desejo é ver tudo sem sermos vistos, quando queremos bisbilhotar, e de sermos vistos por todos, quando queremos aparecer.Acho que o mérito do BBB, como do Orkut é este, o de permitir que o público realize seus desejos secretos.

Concorda?Qual a sua análise?
Postado ao som de Red hot chilli peppers, Natiruts, Soundgarden e Djavan.

Nenhum comentário: